Tudo começou quando perdi Alice, a minha avó materna. Fui morar na casa em que ela morava com o meu avô até ele poder se fortalecer dessa perda. Vivi o meu luto dentro da sua casa, sentindo a o cheiro dela, roupas penduradas, comidas preparadas, panos de crochês que nunca serão finalizados e a sua cadeira que
não sentirá mais o peso do seu corpo físico. Senti a sua presença em todos os cantos que passava, mas nada era igual a quando eu ia regar as suas plantas. Herdei essa planta e cuido e converso com ela sentindo a presença da minha avó. Ela saiu do apartamento aonde cresceu e ganhou o meu mundo.
Alice é uma semente que renasceu dentro de mim, é o corpo da minha avó que voltou para a terra e segue alimentando a minha arvore para que eu floresça. Por isso, dei vida humana a essa planta para que o corpo da minha avó esteja presente também fisicamente no mesmo mundo em que habito. Hoje, eu retrato a saudade.