Antes de uma agressão física e até chegar ao feminicídio, existe uma violência oculta – a violência do discurso. Somos sujeitos da palavra e nos constituímos pela linguagem. Compreendendo que um ato violento é um ato de destituição de protagonismo, esse trabalho procura romper o silêncio, reunindo mulheres, acima de 50 anos, que como protagonistas de suas histórias, se despem, cada uma a seu modo, e mostram suas marcas a partir de frases violentas que fizeram parte de suas trajetórias. Cada uma das fotografias é o capítulo de uma história, em muitas das quais outras mulheres se reconhecem, com discursos machistas, ageístas, racistas e misóginos, que são gatilhos da violência (sequer reconhecidos como tal) nas nossas relações sociais. Como numa luz vermelha de um laboratório fotográfico, em que as imagens latentes se revelam, o que não se vê a olho nu, aparece nos corpos nus, nesse jogo de caça-palavras.
Dados da violência:
Em novembro de 2018 o El País publicou uma matéria do relatório da ONU Mulheres, dizendo que a América Latina é a região mais letal do mundo para as mulheres viverem, excetuando as zonas de guerra. Fazendo um recorte, somente em Minas Gerais, entre 2018 à março de 2021, 477 mil mulheres sofreram violência doméstica (dados disponibilizado pela Polícia Civil MG). Somente em Belo Horizonte, cidade onde a fotógrafa vive, são mais de 1.000 casos mensais. As violências que mais se destacam são a violência física e a psicológica.