Cinderela é o resultado de uma convivência íntima, de quase três anos, no ‘Casarão’, onde na época moravam cerca de 25 travestis que se prostituem nas ruas da Lapa, zona tradicional boêmia e de vida noturna efervescente no centro do Rio de Janeiro. A minha premissa básica era a cumplicidade e
confiança mútua com as meninas.
A lacuna da educação ( muitas são expulsas de casa muito cedo ) a vida à margem da sociedade que impõe a esse grupo de pessoas uma total invisibilidade, a própria marginalidade e violência do local e das condições diárias para a sobrevivência, nessa época principalmente, fazia com que a prostituição fosse praticamente a única alternativa de vida.Não busquei um olhar moralista quanto ao apelo do drama social, molduras em que o universo das travestis costuma ser colocado. O meu objetivo não era somente dar voz às travestis mas também e principalmente, dar um corpo, mostrar a beleza, a sensualidade e a dignidade de um corpo ao mesmo tempo feminino e masculino.