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Crônica de Banalidades Ordinárias

Sylvia Sanchez

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O estranho: aquilo que parece fora de lugar, que não reconhecemos, cujo sentido não compreendemos. Mas quão longe está o estranho daquilo que costumamos chamar de normalidade? Não seria o estranho mais “nosso” do que costumamos perceber?
Em seu texto “O Estranho” (Das Unheimlich), Freud propõe que os principais fatores capazes de nos despertar uma sensação de estranhamento são aqueles que nos são mais intimamente familiares, “aquilo que deveria ter permanecido oculto mas veio à luz”. Com o trabalho Crônica de Banalidades Ordinárias tensiono a ideia do estranho como incomum e distante. Sobreponho os conceitos aparentemente antagônicos (mas tornados muito próximos pela pandemia) do absurdo e do quotidiano – e crio com meu próprio corpo, através de performatividade para a câmera, cenas que apresentam espaços domésticos familiares, quase vazios, povoados por objetos quotidianos fora de lugar e atravessados por gestos capturados fora da sua funcionalidade. São gestos que habitam a vida ordinária, mas que subvertem suas razões; eles rompem as barreiras do normal, sugerindo narrativas fantásticas.
As cenas congelam frações do absurdo que habita os eventos ordinários e que geralmente passa desapercebido. Reverberam a atmosfera inexpressiva e confusa daqueles que percebem que a estranheza também os espelha. Crônica de Banalidades Ordinárias foi criado e produzido entre 2016 e 2018, mas ganhou novas camadas de sentido com o Covid-19, como espécie de síntese do que se tem vivido com a pandemia: isolamento, auto-reflexão, incompreensão, estranhamento, falta de sentido – e, ao mesmo tempo, algum humor, como forma de tentar seguir a vida.

Sylvia_Sanchez
Sylvia Sanchez
São Paulo – SP
Artista visual  Diretora de fotografia
@_sylviasanchez_