2021
“O anjo dizia em alta voz: Temei a Deus, e dai-lhe glória; porque é vinda a hora do seu juízo. E adorai aquele que fez o céu, e a terra, e o mar, e as fontes das águas. (Apocalipse 14:7)”. Conforme anunciado nos escombros, o mundo acabou. Ao menos aquele que conhecíamos. Foi inundado. Foi chegada a hora do Juízo. Não fomos salvos e não estamos entre aqueles que ressuscitaram e subiram aos céus. Estamos em ruínas. Este grupo de imagens faz parte de um ensaio realizado na praia de Atafona, norte do estado do Rio de Janeiro, onde o avanço do mar vem transformando construções em ruínas abandonadas. Um fenômeno que acontece desde a década de 50 já destruiu em torno 500 casas e uma área equivalente a 40 campos de futebol. A região sofre também com a invasão das dunas de areia que soterraram a área urbana e estão enterrando literalmente dezenas de construções entre comércios e residências. Segundo os moradores, Atafona é a primeira cidade a ver a chegada do fim do mundo. O matemático Sir Isaac Newton (1642-1727) entendia que que o enigmático número bíblico 144.000, pichado nos restos de destruição, seria o total de pessoas “aptas para a vida no céu”, mas a Terra continuaria a ser habitada por mortais após o dia do juízo. O tom pós apocalíptico deste ensaio é justamente uma metáfora para o sentimento generalizado daqueles que sobreviveram, mas que assim como nós, ficaram presos no limbo da realidade brasileira atual.