Lá onde a memória guarda as recordações: as imagens, as risadas, as tamancas de madeira, o “boa tarde” estridente, o batom marcado, as estampas, os brincos dourados, as palavras de liberdade e os conselhos, é o lugar de Mônica. Não sei sobre seu passado, mas, de fato, aquela presença faz toda a diferença para compreender: eu, tu, ela e elas e que está aqui/lá e que habita-me. Lembro de uma tarde, quando minha mãe chegou na companhia da figura mais alegre e exuberante da minha infância – imagine o que era olhar e estar na presença da representação da autenticidade, da liberdade e da forca, em uma idade em que buscava referencias, identificação e palavras de carinho. Ela falava, ria e brincava, para além dos momentos de felicidade, sempre disposta a apoiar aquela criança que a admirava e escutava atenta às orientações: “_Seja quem você quer ser!” ou “_Amapozinha, bate esse picumã!”. As gargalhadas ajudaram a me fortalecer e a busca por ela ainda é constante, enquanto vislumbro as facetas daquela mulher – aqui e ali, na comunidade a qual faço parte: com minhas trivialidades e minhas peculiaridades. A presença, mesmo que não física, foi pilar para pensar quem sou. Aos 13 anos, questões de gênero, perguntas sobre minha própria carne, meus desejos mais íntimos e todos os demais questionamentos tão pertinentes que permitiram a construção da minha subjetividade, foram trespassados por ela, um corpo excêntrico e abjeto”. Esta mulher ocupa um espaço em mim e na minha consciência. […] Diante de tudo, uso a câmera como instrumento de acolhimento, retratando faces, desenhando momentos, gestos, conhecendo histórias e relembro instantes de um passado que é vivido, texturizado, enquadrado e presente.