Quando a quarentena começou e as cidades ficaram vazias, a arquitetura e o patrimônio material se destacaram. Fiquei observando, através de fotografias, essas grandes construções e passei a reconhecer a história através de ruínas, como a memória que fica e que atravessa tempos. Quantos anos tem as ruas, as igrejas, os prédios? O que ficou gravado nessas paredes? Parece que o passado, presente e futuro estão bem definidos ali, no tempo material das coisas.
Em contrapartida, no isolamento social também refleti sobre o mergulho profundo no universo digital e nessa memória sem tempo. Passado, presente e futuro se atravessam e se alteram a qualquer momento. A virtualidade afeta diretamente nossa percepção do real. E o que fica?
Comecei então a caminhar entre as fotografias, tentando observar nos meus registros, quantas camadas me atravessam. Nessa deriva pelas imagens, algumas memórias de histórias que estão no imaginário popular da cidade, foram surgindo e isso foi motor para querer escavar em jornais antigos a história colonial cravada em toda estrutura da cidade.
A memória coletiva neste trabalho, é como uma entidade preservada pelo patrimônio. Mas será que a história contada por elas é só do passado? Será que a história é sobre todos nós brasileiros e latino-americanos?
Relembrar tornou-se um exercício de rever a memória e ressignificá-la, a fim de imaginar um futuro possível. Texto e imagem abrem caminho, deslocam o tempo e criam outras memórias.

Ficha técnica: Entre Lugar | Renata Gordo | Fotografia digital de celular e múltiplas exposições | Formatos diversos | 2020

Série Entre Lugar – Selecionada para a mostra “Entre Lobo e cão” da Ceart Udesc – 2021
Exposição virtual “Entre Lugar”, projeto selecionado pelo o edital #SCulturaemSuaCasa da Fundação Catarinense de Cultura – 2020