2024
A série é o resultado de uma imersão em diferentes processos fotográficos do século XIX, denominados ‘artesanais’ – cianotipia, papel salgado, marrom van dyke, goma bicromatada e alguns de seus cruzamentos – a partir de colagens digitais produzidas no ano anterior.
Depois de quase 400 anos ‘sequestrado’ na Europa, em julho de 2024 o Brasil viveu a repatriação do manto sagrado, pertencente a uma tradição religiosa dos povos originários que habitavam o entorno da Baia de Guanabara no Estado do Rio de Janeiro: o MANTO TUPINAMBÁ.
Para os tupinambás, quem vestia o manto – produzido especialmente a partir de milhares de penas vermelhas do pássaro Guará, além de plumas de papagaios, araras-azuis e amarelas – se transmutava em pássaro.
Inspirada na instalação Ka’a Pûera: nós somos pássaros que andam, da artista Glicéria Tupinambá, exibida na 60ª Bienal de Veneza (abril a novembro de 2024), e a partir de imagens da Baia de Guanabara, na quase totalidade produzidas pelo principal fotógrafo brasileiro do século XIX, Marc Ferrez (1843-1923), a série procura dar visibilidade ao apagamento de uma história que precisa ser, cada vez mais, retomada, contada, recontada, conhecida e explicada.
A referida série introduz, assim, a ausência/presença do manto tupinambá por meio da silhueta obtida a partir da performance da artista Glicéria Tupinambá. Insere, ainda, elementos pertencentes à fauna e flora originais da Baía de Guanabara como o pássaro Guará, as baleias e as árvores de pau brasil.
Como defende Ariella Azoulay, em História potencial: desaprender o imperialismo (2019), é preciso interpelar e reativar o passado potencializando a história, escrever a história à contrapelo, como propõe Walter Benjamin (Teses sobre o conceito de história) e, com isso, desaprender o imperialismo, oferecendo novas e outras visibilidades – e outras formas de explicação – aos fatos históricos.