Reagir. Verbo intransitivo. Daqueles que não possuem complemento – direto nem indireto. Reagir quer dizer agir em resposta. Quase que num movimento do passivo ao ativo. Quer dizer sair do mesmo lugar. E assim ele se basta. Não Reagente seria, então, aquilo que não responde. Aquilo que permanece. Mas, paradoxalmente, permanecer parece trazer muitas consequências, muitos estímulos. E é a busca por complementos incessantes – diretos e indiretos, que movem a pesquisa. Nada intransitivo.
O ensaio transita pelo tema da maternidade. Não Reagente é a falta de escolha, são as surpresas no caminho, aquilo que não nos dá direito de resposta: nem para sim e nem para não. Priscilla não pensava em ter filhos até saber que não poderia tê-los. O impacto do diagnóstico se transformou em necessidade de fotografar. A infertilidade passou a ser um objeto a ser investigado e trabalhado. A pesquisa começou com reação. Entrevistou mulheres. O seu corpo-mãe negativado virou uma questão. “Como você se imagina, se você não tivesse sido mãe?”, perguntou a algumas que o foram. Assustou-se com as respostas. Sentiu o peso do não sobre as suas costas e o peso do sim sobre os ombros de outras. Começou a produzir imagens questionando como as mulheres, vivem, sentem e reproduzem o discurso de uma sociedade patriarcal de que a vida só tem sentido quando se é mãe. Também encarou conversas com quem escolheu não ser. E sentiu o gosto leve – mas nem tanto – que experimentava quando ainda possuía o poder de optar. Não Reagente.
Até que grávida. Até que, obra quase terminada, plot twist. Grávida. Reagente. E ela não sabia reagir. Poder de escolha roubado mais uma vez. Até que mãe – as fotografias, antes não reagentes, precisam encontrar um novo corpo. Nova pesquisa, nova busca. Hormônios reagem. Substâncias que nenhum laboratório fotográfico daria conta, por tanta alquimia. Revelação. Fixação. Ocitocina. Leite. Sangue. Preto, branco e vermelho. Pele e papel. Filho. Sexo. Espelho. Roupas. Comida. Casa. O que ainda não reagiu? O que cabe na maternidade e na não maternidade, no corpo de uma mulher? O que cabe no poder de escolha e na cria? Quem cria quem, afinal? Não Reagente é diálogo e desabafo. É questão urgente. É política daquelas que vêm das entranhas. É imagem e gesto, além de verbo. É respiro e grito. É sobre ser mulher e tudo mais – e tudo menos. É sororidade, acolhida e doação. Não Reagente é processo terapêutico para quem abre a porta para recebê-lo. Priscilla pariu um filho e está parindo uma obra. E não quer deixar a opção de não reagir.