2021
Como construir novas memórias? Aqui, a fotografia cumpre o papel de resgate, reconstrução e afeto.
Cresci perto da máquina de costura. Brinco dizendo que a trilha sonora da minha vida foi moldada pelo som do motor e da tesoura atravessando tecidos escuros e florais. As minhas tias, a minha avó, a minha mãe… desenhavam, esticavam panos, mediam e faziam acontecer o que queriam por meio da costura. Sempre achei mágica essa relação de planejar e executar, assim, na nossa frente. Nesse meio, a minha avó fazia surgir blusas e vestidos de quadrilha, se tornando a professora de todas as irmãs. Depois vieram as minhas tias-avós, mas antes delas, sei que vieram outras e outras e outras, até chegar na minha existência, que nada sei sobre a máquina de costura, mas tento entender sobre outro tipo de fazer: a imagem.
Dos povoados no sertão de Alagoas, região da cidade de Batalha, até a vinda para a capital do estado, a costura moldou a vida de todas as mulheres da minha família, tornando-se símbolo de força, poesia, amor, dor e sustento à nossa história. A criação da série “O lugar que somos” (2021) tem o intuito de rememorar, através de vestes e objetos, o espaço coletivo por elas habitado.
A inspiração para o título surgiu após a leitura da obra ‘Prece a uma Aldeia Perdida’ (2004), da brasileira Ana Miranda. O poema da autora traduz fielmente os sentidos que formaram a existência dessa série, que logo se tornou documentário, e fora selecionado para compor a 12ª Mostra Sururu de Cinema Alagoano, edição que celebrou os 100 anos de cinema em Alagoas.
A narrativa evoca um espaço e muitos rostos que passaram, mas continuam sendo (e estão).
“E quando ali retornarmos
Verás que nunca nos fomos
Pois o lugar onde estamos
O lugar onde estaremos
É sempre o lugar que somos”