“O parque” é um projeto artístico participativo inspirado em um movimento popular que defende a criação de um parque público formado por três porções de terra que adentram o mar, na cidade de Florianópolis (Ponta do Coral, Ponta do Lessa e Ponta do Goulart). Faz dialogar fotografia de estilo documental e fotografia performativa, de caráter participativo, num território transdisciplinar, envolvendo as áreas da arte, da antropologia, da literatura e do urbanismo, de modo a questionar as políticas da cidade e seus sistemas visíveis e invisíveis de poder.

A proposta constitui-se na forma de um jornal intitulado Ponto de Fuga contendo fotografias e textos político-poéticos, realizado em parceria com o arquiteto e urbanista Gustavo Andrade e antropóloga Marta Machado, o qual foi distribuído pela cidade no ano de 2017.

Florianópolis, capital do estado de Santa Catarina, também conhecida por Ilha da Magia, em virtude de suas belezas naturais, tem sofrido intensamente com a especulação imobiliária. A Ponta do Coral é um desses espaços ameaçados que ainda resiste, e que tem o apoio do movimento popular que vem lutando desde os anos 1980 pela criação de um parque no local, acessível a todos. A luta intensificou-se em 2014, com a notícia da instalação de um hotel de luxo com marina no lugar. Sua paisagem, já marcada pelas ruínas de uma primeira ocupação, agora engolidas pela vegetação, tem acolhido, paulatinamente, atividades pontuais, desenvolvidas por aqueles que lutam por um espaço mais democrático. No parque imaginário: piqueniques, teatro, cinema ao ar livre, performances, oficinas de dança, de leitura, de escrita, jogos infantis.

Munida de uma câmera de médio formato carregada de filmes vencidos, de forma contemplativa, fotografei o lugar. A incerteza das películas evoca a sorte da pequena ponta de terra. Num segundo momento, em diálogo com aqueles que sonham com a criação do parque, realizei uma série de imagens performativas inspiradas de parques presentes na história da arte e do cinema. Abordagens distintas que se reuniram para questionar o poder econômico e político que transforma o espaço urbano ao seu modo.