2024
Este trabalho investiga a ausência de registros fotográficos da infância, um vazio que repercute tanto na memória individual quanto na coletiva. Em 2023/2024, através das ações do Festival Artes Vertentes, com parceria com Sônia Ursula e Superintendência da Mulher, conduzi oficinas de fotografia híbrida com 17 mulheres em situação de vulnerabilidade social, residentes das periferias de Tiradentes, MG. Nesse tempo pude observar de que maneira a falta de imagens desse período marca suas trajetórias e interfere na construção de suas memórias. Para muitas, a ausência de registros não significa ausência de lembranças, mas torna a infância um tempo difuso, reconstruído a partir de fragmentos dispersos. Além disso, essa lacuna reflete desigualdades na construção da memória social, apagando histórias e experiências que, sem imagens, tornam-se mais vulneráveis ao esquecimento. Comparo essa ausência a uma colcha de retalhos incompleta, onde a falta de um único fragmento compromete sua inteireza.
Buscando preencher, ainda que simbolicamente, esse vazio, utilizei a inteligência artificial para recriar retratos de infância, tomando como base fotografias atuais que realizei das participantes. O processo não apenas devolveu rostos a infâncias que não foram documentadas ou cujos registros se perderam, mas também possibilitou uma nova forma de acessar e ressignificar essas memórias.
Ao costurar essas ausências, este trabalho cria um espaço onde memória e imaginação se entrelaçam, reafirmando que até mesmo o que foi invisibilizado pode ser reconstruído, lembrado e vivido de novas maneiras.