Sem dados, fatos e afetos me aproprio de imagens compradas em leilões, ganhadas de outras pessoas cujos familiares nunca tive contato, encontradas nas ruas ou em lojinhas de souvenirs.
Ao olhar o retrato 3×4 de alguém desconhecido, o que vejo? Interesso-me pelo que falta: a própria pessoa na vida da fotografia. Essa sim vive, além de nós. Ela, a fotografia, tem a promessa do amanhã. Só ela, ninguém mais. O tempo rói a memória. Apagada de sua origem, a memória vira o quê? Sem lembranças, porque nada me contaram sobre esses retratos, manipulo o vazio daquilo que me enche: o desejo do encontro. Sim, isso é o que existe, apenas o encontro. Nele estou cheia de dúvidas, de vontade, de dentes.
Na duração do diálogo entre mim e as fotografias-de-não-sei-quem-são algo extrapola o programa e implode o caminho. Procuro os cacos porque ninguém tem a promessa do amanhã.