2019
O projeto terra terreno território tem como objetivo ampliar o debate sobre a cultura indígena na atualidade, considerando também as grandes cidades como locais de existência, resistência e permanência indígena.
As imagens fotográficas captadas na cidade de São Paulo, em 2019, tanto em aldeias quanto em contexto urbano, são impressas artesanalmente em folhas de plantas e também em papéis sensibilizados com o pigmento extraído do jenipapo, o mesmo que os indígenas usam para as pinturas corporais.
A ligação dos indígenas com a terra, com a mata e com os ciclos da natureza é muito presente, mesmo dentre os que estão na cidade há bastante tempo. Assim, a escolha do uso da própria planta e dos pigmentos naturais como suporte nesse processo é quase ritualístico, e remete também aos fazeres manuais e mergulho nos processos, tão importantes nessas comunidades.
Ambos os processos se dão através da ação da luz solar, em tempos que variam de 3 dias a 6 semanas de exposição.
Como a natureza – onde tudo se transforma – esses processos produzem imagens vivas, já que as folhas e o papel sensibilizado com jenipapo sofrem interferências com a passagem do tempo – referência a permanente transformação que a 520 anos atrás.
Dependendo da quantidade de luz recebida a imagem pode chegar ao apagamento, fazendo um paralelo ao apagamento histórico que a cultura indígena sofreu e ainda sofre em nosso país.
Assim, a proposta favorece também a discussão acerca da fotografia e de seu caráter de memória e documento como algo imutável, ampliando seus contornos e podendo se vincular ao documental de forma bem mais subjetiva.