Ângela Berlinde [ Porto, PT, 1975 ] mergulha no seu arquivo para extrair formas e funções poéticas e políticas a partir da conjuntura cartográfica que a levou a habitar, na última década, duas terras intrinsecamente conectadas pelo expansionismo da história moderna: a sua terra natal, Portugal, e seu filho mestiço, Brasil.
TRANSA surge como mote para uma reflexão sobre a existência contemporânea, ameaçada pelo limbo e brutalidade dos processos colonizatórios que agora se revertem. A Terra, neste tempo suspenso, parece ecoar um grito surdo que agrega todas as forças civilizatórias juntas – as repressoras e as subalternas, as da história majoritária e as minorias, a mulher, o negro, o indígena, o colonizador.
Na vastidão da floresta amazónica, TRANSA convida-nos para uma dança estética e existencial através do hibridismo da fotografia e surpreende-nos com mitos e contos indígenas, numa personificação da graça criativa e fecundadora da natureza. Nesta travessia, no encontro com as comunidades originárias atiradas para as bordas do mundo, vibram reflexões sobre o conceito do Homem que vive descolado da Terra, que suprime a diversidade, que nega a pluralidade das formas de vida.
Artista e investigadora no campo do hibridismo da Fotografia, Ângela Berlinde interessa-se pelo lugar do artista nestes tempos obscuros e apela a uma ressignificação do tempo presente, numa tentativa poética de captar o curso irreversível do tempo e de todos os acontecimentos brutais que permanecem a marcar o curso da história. Diz procurar “agitar as águas de uma Terra em Transe e ousar um imaginário transgressor sobre o lugar do artista, que vive permanentemente no fio do abismo”.
Sem medo do escuro, Ângela Berlinde traz para o campo da arte o gesto político de propagar alegorias que pairam no limbo, não somente entre o documental e o ficcional, mas entre-tempos, entre histórias e geografias, entre passado e futuros, entre Portugal e Brasil.