Sobre a BR-101, Andrea olha através do vidro do carro de seus pais a paisagem que desfila. A criança sonha um dia parar nos vilarejos. Anos mais tarde, seu trabalho fotográfico intitulado Translitorânea apresenta-se como uma maneira de voltar no tempo.
Sensível e realista, o olhar da artista nos faz descobrir paisagens e lugares que são o oposto dos clichês turísticos. Nesse cotidiano, cada pessoa, cada parcela de espaço contém uma poesia que o encontro pode revelar. Os lugares e os objetos parecem frequentemente abandonados: essas naturezas-mortas são metáforas da memória. Translitorânea não é mais uma estrada, ela tornou-se uma experiência.
A partir de centenas de tomadas realizadas durante vários meses, Andrea constrói Translitorânea como uma utopia. A artista inventa um universo como o faria um romancista com personagens. Tudo provém da realidade, mas se transforma ao integrar-se ao imaginário da artista. Mulheres, casais, crianças, trabalhadores, idosos compõem um povo. Se nós não conhecemos essa comunidade, a artista, ela, conhece a história de cada pessoa – essa intimidade do encontro situa-se na confiança que os modelos lhe conferem.
O povo de Translitorânea é doce e altivo, ele não é rico nem pobre. Esse povo é composto por seres iguais. Translitorânea é uma alegoria da democracia.
Michel Poivert