2019
Quando palavra e imagem se misturam para compor narrativas, essa fricção pode se dar também por dissidência e choque. É assim que construo “Viagem de ano novo”, ensaio em que fotografias analógicas em pb feitas com uma Olympus pen – que duplica os frames – aparecem ao espectador junto a textos datilografados, reunindo em cada quadro/peça/imagem memórias de momentos distintos de uma viagem por Minas Gerais em 2019. As fotografias são todas feitas de dentro do carro em que percorri a extensão do estado desde Belo Horizonte até São Paulo e os textos advém de situações vividas durante as paradas nas cidades que compuseram o roteiro.
Penso nesse trabalho como quando olhamos um álbum de fotografias: o que dizemos sobre as imagens que vemos geralmente não é exatamente sobre elas, muitas vezes extrapola o que é visto e narra situações vividas antes ou depois do clique, impressões sobre “aquele dia” ou sobre aquele período da vida. Assim é neste ensaio: o que a palavra diz é uma expansão do que a fotografia narra. Os dois textos, verbal e visual, se associam pra contar do cotidiano de quinze dias viajando em um carro alugado, cruzando um estado em que nunca morei, comemorando o ano novo.