





Por Pimar, fotos e texto
Angústia é um trabalho iniciado em 2008, quando eu tinha 21 anos e cursava o Técnico em Fotografia no Senac. Naquela época, eu não compreendia a origem do sentimento que me tomava nem o que me levava a esse lugar de inquietação. Ainda assim, a fotografia tornou-se uma forma de expressão para aquilo que eu não conseguia verbalizar. Mesmo sem entender o que era, eu fotografava.
Em 2019, três anos após o nascimento do meu filho, consegui me libertar do relacionamento abusivo com o genitor, que durou 16 anos. Aos poucos, compreendi que Angústia sempre foi sobre a dor, o medo e o silenciamento que vivi durante e após essa relação, um retrato das violências invisíveis que se instalam no cotidiano doméstico, corroendo a autoestima, a autonomia e o direito de existir. Minhas emoções foram reprimidas, meus sonhos e desejos invalidados de forma cruel. Fui levada a duvidar de mim mesma, das minhas convicções, da minha sanidade e dos meus sentimentos. Essa confusão me reduziu intelectual, profissional, física e financeiramente. Sem perspectivas ou sonhos, parei de fotografar. Minha luz foi apagada.
Após a separação, retomei Angústia, ainda com muito a compreender e expressar. No início, em 2008, minha amiga Suellen Santos, tatuadora, foi modelo. Na retomada, com fotografia analógica, contei com minha amiga e atriz Mauriceia Rocha. Durante a pandemia, passei a incluir autorretratos, tornando o processo mais íntimo e confrontando o olhar sobre mim mesma.
Hoje, aos 38 anos, compreendo o papel que Angústia desempenhou e ainda desempenha na minha vida. Cada imagem criada foi, e continua sendo, um ato de resistência, um grito de socorro e, ao mesmo tempo, um gesto de cura. A fotografia me ajudou a dar forma a dores que por muito tempo não consegui nomear.
Angústia é o testemunho da minha história e o espelho de tantas outras mulheres que vivem sob o controle e a violência de seus parceiros. Mais do que um processo de cura pessoal, este trabalho é um convite à reflexão e à libertação, para que outras mulheres possam se reconhecer, romper o silêncio e reencontrar sua própria luz.
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Dia 25 de novembro é reconhecido pela Organização das Nações Unidas (ONU) como o Dia Internacional pela Eliminação da Violência contra a Mulher.
#feminicidiozero