Nasci em Vitória da Conquista, centro-sul da Bahia. Convivi desde a infância com a fotografia. Meu avô recebia muitas fotografias de gente desconhecida e lugares diversos, existentes apenas nas imagens. Essas fotografias impressas ficavam amontoadas nas diversas gavetas da estante da sala. Eu não tinha permissão para mexer nelas e foi isso que despertou meu especial interesse pela fotografia: a proibição de tocar, ver e imaginar aquelas pessoas, seus modos de vida, quais histórias existiram para que aquelas imagens estivessem ali. O proibido me conduziu à invenção na fotografia. O universo do arquivo, a ideia de memória, de guardar coisas, de fabular sobre gentes que sequer sei quem são me acompanham desde criança. Hoje entendo essa curiosidade como um fator que constitui uma bifurcação em meu processo criativo: de um lado o desejo por estreitar laços com a vida de outras pessoas, acompanhar seus dias, seus rituais, suas manifestações religiosas e, de outro, usar imagens de arquivos comprados em leilões para supor e fabular outras histórias. Meu imaginário está povoado pelo sertão, suas substâncias, seus seres, suas pessoas e toda a atmosfera existente em seus lugares.